As Rezadoras

Em junho, durante o RISC Training (coordenado por duas mulheres), conheci a Luiza Calagian. Ela me disse que no mês seguinte iria para um encontro das mulheres guarani e kaiowá na aldeia Amambai, no sul do Mato Grosso do Sul, e eu me meti na jogada. 

Consegui contactar a organização do evento que autorizou a minha presença no Aty Kuña, a assembléia das mulheres kaiowá e guarani ñandeva. Lá, conheci outras duas mulheres importantes nessa história, a Tatiana Klein e a Lauriene Seraguza. 

Ambas são antropólogas apaixonadas pelo ofício, dedicadas e batalhadoras. Hoje tenho orgulho de dizer que são minhas amigas, pessoas que admiro muito e que trabalham no front de uma guerra muitas vezes desinteressante ao eixo Rio - SP. Elas me apresentaram de maneira linda a um universo novo para mim.

Durante o Aty Kunã, fiz uma série de retratos das rezadoras, as xamãs dos povos kaiowá e guarani. Mulheres fortes, que me tocaram pela postura resistente e pelo olhar guerreiro. Mulheres anciãs, que se conectam com o divino e botam ordem nos tekohas.

Voltei com esse material editado e outra mulher importante nessa história apareceu: a Isabela Decorle, hoje editora da Revista CLAUDIA, que conheço há quase uma década, desde quando éramos bebês nas redações da (saudosa) editora Abril. 

A Isa se conectou com essas mulheres e suas história e publicou, em quatro páginas, na edição de dezembro da CLAUDIA, uma reportagem lindamente escrita pela Lauriene Seraguza (que tem um trabalho específico sobre as mulheres kaiowá e guarani) com as minhas fotos.

Muito feliz por ter feito a ponte para que esse material fosse publicado do jeito que foi, com liberdade e afeto. Achei importante dividir os retratos das rezadoras (veja aqui todos os 15 retratos) com as meninas. O passado e o futuro. São a elas que devemos ouvir: as anciãs e as crianças.

No último mês das nossas vidas oficialmente sem Bolsonaro, comemoro mais um trabalho que nasce inspirado na resistência das mulheres e dos povos indígenas. Obrigado a todas as mulheres envolvidas nessa história e na minha vida. Vocês são demais. À luta!