Ñu Vera (English Version)
Essa é uma aldeia na iminência do despejo.
A reserva indígena de Dourados (Mato Grosso do Sul) está lotada com 16 mil índios em pouco mais de 3 mil hectares de terra, por isso os Kaiowá ocuparam uma área ao lado, que reivindicam como território tradicional, onde há 30 famílias vivendo atualmente. No entanto, o fazendeiro proprietário da terra entrou com uma ação judicial e o tekoha Ñu Vera, ocupado em 2011, corre o risco de ser destruído.
Quando cheguei lá, conheci logo o seu Ambrósio, líder comunitário. Me apresentei e perguntei se poderia ajudá-lo com o meu trabalho. Ele topou e me pediu para focar em duas coisas: nas crianças e nas plantações.
Plantações significam o bom uso da terra próspera, a vida estabelecida, a roça criada, o vínculo ativo com a terra. Terra e vida, profundamente associados na concepção indígena. Pé na terra não é pé sujo, é pertencimento.
E crianças são o futuro, o novo, o motivo da luta de 518 anos dos índios brasileiros. Em Dourados, e certamente em diversas outras áreas do Brasil, índios — quando não são ignorados — são segregados.
Com poucos dias convivendo com os Guarani e os Kaiowá consigo ter certeza que nenhum deles escolheu viver nessa situação difícil que passam. Isso é resultado da negação de seus direitos territoriais e de políticas públicas promovidas pela bancada ruralista, um governo omisso e uma sociedade ignorante e conservadora.
Ñu Vera resiste.
Foto: Ambrósio, 61, líder comunitário. Assista ao seu depoimento sobre o tekoha Ñu Vera.
Adriel, 6, brinca na plantação de mandioca do pai. Julho, 2018.
Valdivino, 71, junto com seus bichos. Julho, 2018.
Iasmim, 12, estuda a tabuada com os irmãos. Julho, 2018.
Adércio passa de moto com a família por umas estradinhas do tekoha. Julho, 2018.
Um cemitério ao lado da plantação. Julho, 2018.
Sergio, 34, e Lucila, 24, dão banho no filho mais novo. Julho, 2018
Edilamar, 30, lava roupa no quintal da casa onde mora com o marido e quatro filhos. Julho, 2018.
Alex, 12, espia de dentro do seu quarto. Julho, 2018.
Julini é carregada por sua mãe no tekoha Ñu Vera, em Dourados, Mato Grosso do Sul. Julho, 2018.